Imagem capa - AS HISTÓRIAS E O VALOR DAS IMAGENS por Colmeia Jardim Escola

AS HISTÓRIAS E O VALOR DAS IMAGENS

Desde a publicação do post sobre a hora de dormir, no qual sugerimos alguns livros de histórias, que temos recebido várias perguntas, por isso vamos falar um pouco sobre isso hoje.


Existem diversas maneiras de analisar o valor das histórias para as crianças. Aqui vamos abordar o assunto a partir da visão da Pedagogia Waldorf e da Antroposofia. Steiner nos fala que “A alma da criança tem necessidade toda poderosa para fluir a substância dos contos de fada, semelhante à necessidade do corpo humano que deseja o alimento para saciar a fome.”


Qual é a substância dos contos? Que alimento é este que nós podemos oferecer para as crianças e como atuam?


A primeira coisa a ser compreendida é que os contos “falam” através de imagens, e isso é extremamente benéfico para as crianças uma vez que ativam um tipo de pensamento vivo, e dessa forma as ajudam na compreensão de várias situações internas, além de criarem recursos emocionais que mais tarde poderão ser acionados em situações de conflitos. Por isso é tão importante pensarmos em que tipo de imagem estamos oferecendo e de que forma as estamos apresentando.


“Os contos podem nos ensinar muito sobre os problemas internos do ser humano. Os contos colocam as crianças frente aos conflitos básicos das pessoas: a inveja, o poder, o êxito, a astúcia... os contos tratam de forma leve os problemas existenciais.”

B. Bettelheim


Temos, então, duas coisas importantes para observar: o tipo de imagem que ofereço vai se tornar fonte de discernimento posterior; a forma como apresento vai ativar habilidades cognitivas.


Albert Einstein em sua famosa frase dizia:

“Se querem que teus filhos sejam inteligentes,

leiam para eles­ contos de fadas.

Se querem que sejam mais inteligentes,

 leiam mais contos de fadas!



Então, que imagens estamos oferecendo? Vamos falar um pouco sobre isso?


TIPOS DE IMAGENS E O QUE PODEM REPRESENTAR!


Vamos pensar em nós, seres humanos. Sempre que ouvimos ou vemos histórias (livros ou vídeos) nós nos identificamos com os personagens, nos tornamos ele por alguns momentos, nos apropriamos de suas características sejam elas físicas ou anímicas. Daí nos deparamos com imagens humanas desse tipo:









Ah, mas isso é fantasia!!! As crianças entendem que não é real?

Será?


Na escola temos a oportunidade de ver como essas imagens tomam conta dos pequenos e não permitem que eles se manifestem. As brincadeiras ficam completamente comprometidas com vozes rugidas, gestos copiados, lutas, frases feitas. Não há espaço para imaginarem, criarem, pois suas alminhas estão completamente aprisionadas nestas imagens e apenas reproduzem.


Em situações bem mais graves temos visto jovens e adultos que querem verdadeiramente se transformar nestas imagens através de cirurgias, implantes, etc. São casos patológicos, mas menos intensos e bem perto de nós vemos meninas querendo ser barbies e se impondo sacrifícios horríveis de dietas e cirurgias e cabelos artificiais, meninos querendo ter corpos musculosos lançando mão de anabolizantes. Enfim, vamos nos perguntar se as imagens oferecidas na infância podem ter alguma coisa a ver com isso?





Qual seria então o contraponto? Imagens harmoniosas, cheias de beleza do ser humano e da natureza. Imagens que nos espelham verdadeiramente.








Assim como refletimos sobre as imagens dos seres humanos podemos estender essa reflexão para os animais. Que tipo de imagens de animais as crianças estão conhecendo hoje? Será que isso retrata a natureza em sua exuberância e dignidade? Será que aspectos subliminares estão contidos na formação de uma consciência ecológica?








Bem, vamos continuar com algumas ponderações.


COMO APRESENTAR AS HISTÓRIAS?


Quando falamos de imagens, não estamos falando apenas das imagens visíveis como nos livros. Estamos falando das imagens que são formadas no interior da criança. Ao contarmos uma história, ela imagina! Essa imaginação é a formação de imagens. Essa imaginação é o primeiro passo para o processo de representação que mais tarde vai ser de fundamental importância para a interpretação de um texto, por exemplo.


O melhor seria que contássemos as histórias e as imagens fossem criadas pelas crianças, em sua alma. Dessa forma estamos proporcionando um belo exercício imaginativo.


As histórias são tão magníficas na construção do conhecimento que nas Escolas Waldorf nós temos um currículo para elas. Todos os dias as crianças ouvem histórias, do maternal ao nono ano! Um currículo maravilhoso que percorre todo o caminho de desenvolvimento da humanidade. Contos rítmicos, contos de fadas, fábulas, contos da cosmogênese de diversas culturas, contos indígenas, africanos, biografias etc... O professor é um contador de histórias!!! Assim ele apresenta o mundo para seus alunos.


COMO CONTAR?


Aqui vai mais uma dica. Se vamos experimentar contar histórias o melhor seria contar de cor. Aí é bacana que nossa alma esteja recheada de lindas imagens, pois poderemos narrar com propriedade e encantamento.


Entretanto, sem fazer mímicas ou vozes de personagens. Isso quebra a narrativa e a possibilidade da criança imaginar sua própria história. Nem sempre nosso lobo é o mesmo lobo da criança, se colocamos voz de lobo estamos induzindo um sentimento, que talvez seja demais e gere medo. Se mantivermos uma narrativa mais suave e sem interjeições criamos um ambiente confortável e cheio de possibilidades imaginativas.

 

Como nos diz Heidi Bieler  “a criança quer erguer-se  e crescer interior e exteriormente. Vive na consciência do entorno, e por isso entende o sentido das palavras sem explicação.”  



QUE TIPO HISTÓRIA É ADEQUADA PARA QUAL IDADE?


Isso é bem importante de entendermos para que as histórias possam cumprir sua tarefa. Crianças bem pequenas de 2 e 3 anos não fazem ainda representação mental. As histórias cotidianas, ou da nossa vida são um tesouro para elas. Os contos rítmicos, aqueles que repetem a história acrescentando poucos elementos são também muito indicados.


Temos a história da Formiguinha e a Neve (temos adaptada para o Brasil, a Formiguinha e o barro), Abóbora Abobrão, O Castelinho, Dona Baratinha etc. Muitas destas histórias temos no livro contos rítmicos indicado no post sobre o sono.


Para os maiorzinhos, a partir de 4 anos, os contos de Grimm são um bálsamo para a alma. Entretanto tem uma variedade enorme de contos, é preciso selecionar de acordo com a idade. Nessa faixa etária tem O mingau Doce, Senhora Holle, Chuva de Estrelas, O sete cabritinhos e o lobo.


Outra coisa bastante importante é escolher uma história e contá-la diversas vezes, ao longo de um mês, a criança não vai se chatear, pelo contrário, vai adorar. Ela precisa dessa repetição para absorver todos os elementos que a história traz.


Os contos de fadas podem acompanhar as crianças até os sete anos tranquilamente, basta que sejam selecionados de acordo com a idade. Como vamos saber quais? Analisando o tamanho da história, a quantidade de informações e elementos que ela contém, a mensagem que ela passa, tudo isso são guias para nossas escolhas, partimos dos mais simples, para os mais complexos. Algumas histórias trazem aspectos bem fortes e mazelas humanas, não são adequadas para os pequenos. Também precisamos estar confortáveis com o que contamos.


Mas cuidado para não privarmos as crianças de vivenciarem diversas emoções, todas fazem parte da vida, desde que apresentadas de forma possível de serem absorvidas com naturalidade.


Este é um assunto enorme, que nos provoca em muitos aspectos. Aqui, nossa pretensão foi a de trazer algumas primeiras reflexões. Vamos voltar nisso, trazendo novas propostas, com certeza!


Como sugere o escritor Bem Okri, tem que deixar que o conto faça seu trabalho “em silêncio, de forma não visível.”


Esperamos ter contribuído de alguma forma para que possamos povoar a imaginação das nossas crianças com belas e verdadeiras imagens!!!