Imagem capa - O TEMPO E O ESPAÇO por Colmeia Jardim Escola
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O TEMPO E O ESPAÇO

CANTO DE ÉPOCA COMO VIVÊNCIA DO TEMPO


Uma de nossas tarefas como educadores é ajudar a criança se situar no tempo e no espaço. Isso faz parte do currículo das escolas waldorf e segue um fio que se inicia no maternal e vai até o 12º ano. Claro que as formas como isso acontece acompanham o desenvolvimento da criança em suas diversas etapas e segue transversal às disciplinas dadas.


Na educação infantil, o espaço começa no corpo, que vai ganhando consciência através do movimento e se expande pouco a pouco, mas este é assunto para outra hora, hoje queremos dar ênfase ao TEMPO.


Vivemos tempo de isolamento social e, com isso, temos ficado em casa. Nossa rotina mudou, os espaços mudaram e já não seguimos o ritmo de antes. Várias vezes nos perdemos nesse tempo, não sabemos em que dia da semana estamos ou, até o dia do mês. Porquê isso acontece?


Em geral, nós marcamos o tempo pelas atividades diárias, semanais e anuais. Durante o ano temos os aniversários, festividades e as festas culturais que nos ajudam a seguir o fio desse tempo.  A semana é muito marcada pelo trabalho profissional e o descanso do fim de semana; já o dia tem seu ritmo nas refeições como: café, almoço e jantar, entre outros.


Mas a criança pequena ainda não conhece o tempo. Não conhece passado nem futuro. Esse conceito é uma abstração enorme que ela ainda não acompanha nem compreende. Ela vive no presente, o presente de todo dia, sem planos ou recordações.


Então, como podemos auxiliar a criança nesse processo de se inserir, aos poucos nesse contexto temporal?


O ritmo é nosso grande aliado! Partimos dos grandes ritmos até chegarmos aos pequenos. Os grandes ritmos do mundo estão na natureza e suas respirações. As estações do ano nos conduzem a grandes momentos de contração e expansão da Terra.


Por isso, nas escolas waldorf trabalhamos esse ritmo anual através das épocas. Épocas de 4 a 6 semanas cujo tema está relacionado com a estação do ano e com as festas cristãs, na educação infantil (para países que têm essa referência em sua construção espiritual); e também com as disciplinas escolares no ensino fundamental. Este é também o tempo do corpo etérico, o corpo da vitalidade, da memória e da formação de hábitos.


Verão – Natal, Epifania

Outono – Páscoa, Pentecostes e Corpus Christi

Inverno – são João Batista

Primavera – Micael


Nas salas de aula da educação infantil temos um cantinho muito especial que chamamos de cantinho de época ou cantinho da natureza! Nesse espaço trazemos um recorte da natureza e das festividades para dentro da sala. De forma concreta e venerada as crianças participam desta composição: são pequenos tesouros da natureza que chegam e trabalhos feitos pela professora que trazem significados especiais.


Trabalhar em conjunto com a família este aspecto do tempo foi um referencial para pensar nosso trajeto nessa época de isolamento. O que a estação que estamos vivendo nos traz como estado de alma, o que podemos observar de mudanças na natureza, como podemos nos aproximar dessa respiração que a Terra vive?


E foi assim que começamos a explorar o OUTONO!


"Diga-me, diga-me outono tão lindo: como é que as folhas você vai tingindo?

Alguma tinta vermelha sobrou para pintar a maçã que acordou?

Você pediu o dourado amarelo para o rei sol em seu alto castelo?

Todas as folhas ficaram douradas, vêm para o chão flutuando embaladas!

Como num sonho, desceram suaves, tal como voam as asas das aves.

Vamos tocá-las, pegá-las na mão? Ah, mas o vento não deixa  mais, não!

Ele vem vindo, as bochechas inchando... sopra que sopra, olhe as folhas dançando!

E rodopiam, vermelhas, douradas, voam e voltam, nem ficam cansadas;

Até que dormem no chão bem assim. Folhas de ouro! Quem compra de mim?

Elas farfalham se eu piso onde estão! Vamos! Um quilo só custa um tostão!

Um tostãozinhho é barato demais para este ouro que o sol é quem faz!"

autor desconhecido



desenho feito pela prof. Adriana Mourão


Olhamos pela janela e lá fora o sol nos diz que já não arde mais, mas acalenta e aquece o corpo coberto pelo casaco que estava escondido lá no fundo do armário. Nos faz um convite para aproveitar o seu acalento e nos aquietarmos nessa oportunidade, respirar fundo e observar ao redor. Um céu azul limpo se apresenta nas manhãs. As árvores parecem receber o convite do sol e param toda a sua alta produção para se aquietarem e respirarem fundo também.

Já nem se preocupam com suas folhas que, livres e leves, rodopiam pelo ar, pairando sob a terra. Que lindo tapete formam elas! Tapete macio para as nossas caminhadas de final de tarde e, ao mesmo tempo, que cama quentinha e úmida para as sementes caírem em local seguro e acolhedor.

E o céu pintado do fim do dia? Quem nunca se admirou?! Vai de amarelo, laranja, rosa, lilás, azul escuro; do quente ao frio como o outono se apresenta a nós.

Tantas transformações, tanta beleza e sensações... e lá está a semente recém saída de todo esse movimento e recém chegada à sua nova etapa de ser. Este outono chegou nos dizendo que é hora de vivenciá-lo da maneira mais verdadeira possível. Assim como as sementes, fomos chamados a nos distanciarmos de todo o movimento externo e mergulharmos no nosso movimento interno.

É hora de nos aquietarmos, nos envolvermos no macio de nossos agasalhos, no acalento de nossas casas e de nossas famílias, deixar que nossas inseguranças se desapeguem de nós e caiam livres e leves como as folhas, formando um tapete macio que não se forma em vão. É hora de autocuidado, de entrega, de confiança na nossa essência e na nossa potência para que possamos gestar um tempo novo que virá.

texto prof. Lígia Brasileiro


Uma vez tendo criado esse elo anímico com a época, pensamos na IMAGEM que poderia acompanhar a criança durante este tempo. Escolhemos cuidadosamente uma história de anão. Os anões são os verdadeiros obreiros do outono e do inverno, que cuidam das raízes, das sementes, do solo, dos cristais. Enquanto a Terra repousa no exterior, o trabalho é intenso no interior.


O BOTÅOZINHO VERDE


Era uma vez um velhinho que morava numa casa perto de um grande bosque. Ao redor de sua casa cresciam flores, frutos e havia ainda uma bela horta de verduras e um canteiro repleto de deliciosos temperos que perfumavam o ar. A coisa que ele mais amava era cuidar dos seus canteiros. Todos os dias ele passava muitas horas revolvendo a terra, tirando as ervas daninhas, plantando as sementes aguando e cuidando das pequenas mudinhas.

Certa tarde, depois de ter feito todo o seu trabalho, voltava para casa quando viu no chão um minúsculo botãozinho verde. Ele se abaixou, pegou o pequeno botãozinho verde e pensou: “que roupa tão pequena deve ter um botão como este?” E assim pensando voltou para casa.

Depois de tomar seu banho e sua sopa, lavou tudo com cuidado, subiu para o seu quarto, abriu a gaveta do criado mudo e lá guardou o botãozinho dentro de uma caixinha. Leu um pouco e depois de um tempo guardou seus óculos, apagou a luz e dormiu.

No meio da noite escutou um enorme barulho. Alguém esmurrava com muita força sua porta e gritava. O velhinho acendeu a luz, colocou seus óculos, levantou, foi até a janela, abriu e lá embaixo viu um homem muito pequeno que sapateava com raiva e gritava: “Devolve meu botãozinho agora! Ele é meu!”

O velhinho olhou um instante, sacudiu a cabeça com tristeza, fechou a janela, voltou para a cama, abriu a gaveta e viu que dentro da caixinha estava guardado o botãozinho verde. Fechou a gaveta, tirou os óculos, apagou a luz e dormiu.

No dia seguinte acordou e depois de comer saiu para trabalhar. Revolveu a terra, tirou as ervas daninhas, plantou as sementes, aguou e cuidou das pequenas mudinhas. Ao fim do dia voltou para a casa. Depois de tomar seu banho e sua sopa, lavou tudo com cuidado, subiu para o seu quarto, abriu a gaveta do criado mudo e lá guardou o botãozinho dentro de uma caixinha. Leu um pouco e depois de um tempo guardou seus óculos, apagou a luz e dormiu.

No meio da noite escutou um enorme barulho. Alguém esmurrava com muita força sua porta e gritava. O velhinho acendeu a luz, colocou seus óculos, levantou, foi até a janela, abriu e lá embaixo viu um homem muito pequeno que sapateava com raiva e gritava: “Devolve meu botãozinho”.

O velhinho olhou um instante, sacudiu a cabeça com tristeza, fechou a janela, voltou para a cama, abriu a gaveta e viu que dentro da caixinha estava guardado o botãozinho verde. Fechou a gaveta, tirou os óculos, apagou a luz e dormiu.

No dia seguinte acordou e depois de comer saiu para trabalhar. Revolveu a terra, tirou as ervas daninhas, plantou as sementes, aguou e cuidou das pequenas mudinhas. Ao fim do dia voltou para a casa. Depois de tomar seu banho e sua sopa, lavou tudo com cuidado, subiu para o seu quarto, abriu a gaveta do criado mudo e lá guardou o botãozinho dentro de uma caixinha. Leu um pouco e depois de um tempo guardou seus óculos, apagou a luz e dormiu.

No meio da noite escutou um barulho. Alguém batia na porta e pedia: “Por favor, devolva meu botãozinho verde, meu casaquinho está aberto e estou com muito frio!” O velhinho olhou um instante deu um sorriso, fechou a janela, abriu a gaveta e pegou dentro da caixinha o botãozinho verde. Desceu as escadas, abriu a porta e deu ao homenzinho o pequeno botãozinho verde. Ele saiu correndo muito feliz e o velhinho voltou a dormir.

No dia seguinte acordou e depois de comer saiu para trabalhar. Mas ao abrir a porta, que surpresa! O seu jardim estava cheio de flores, as frutas brilhavam maduras nas árvores do pomar e sua horta tinha as mais belas hortaliças que ele jamais vira.

E foi assim que aquele velhinho recebeu um maravilhoso presente do pequeno homenzinho do botãozinho verde.

(História contada em formações waldorf – autor desconhecido)



desenho feito pela prof. Patrícia Rodrigues


Essa história vai acompanhar outros materiais durante a época do outono! Aguardem para ver como o fio se desenrola.


CANTINHO DA NATUREZA


"Recolhidos em nossas casas como sementinhas na terra, lá fora tanta coisa acontecendo,  nesse momento ,  dentro dela é o melhor lugar para estar. Para as nossas crianças, a saudade da escola está maior, dos amigos, da professora e de todo o ambiente que lá os acolhia. Um  bom fio para ligá-los  a ela,  e que toda criança da escola Waldorf reconhece, é nossa mesa de época ou cantinho da natureza. As crianças sempre atentas a ela, olhinhos observadores aos elementos que chegam e que se vão. 


Mas o que seria essa mesa de época?          


A mesa da época é a representação do universo em seu sentido amplo, e pode ser feita, tanto em casa, no consultório como na sala de aula. Com ela, a criança pode vivenciar concretamente o que acontece na natureza, na vida humana e no plano espiritual, assim como as estações do ano, o céu, a terra.


Vamos montar uma mesa de época?


Primeiro vamos escolher em nossa casa um local, pode ser no quarto da criança, ou outro espaço disponível; na sala, biblioteca, mas que seja acessível e visível para ela. Neste espaço que escolhemos, colocamos elementos e cores que trazem a época do ano.




Os elementos outonais nos inspiram ao recolhimento e interiorização, também podem estar expressos através das cores da estação, em tecidos que representem o céu e a terra. Explorar cores verdes, laranjas, vermelhos, marrons, que juntas nos ajudam a ambientar esta estação.





É importante lembrar, que os elementos colocados ali não são brinquedos para as crianças, mas sim, um local para venerar, observar. Como as crianças pequenas não tem consciência do tempo, as mesas também podem aparecer como bons referenciais do tempo, dando a elas uma experiência rítmica.


Podemos colocar na mesa, ofícios, figuras humanas trabalhando, pescando, soltando pipa, dançando, rezando, ali as crianças espelham também a humanidade. Os objetos que o ser humano construiu com sua sabedoria também podem estar presentes. O ambiente onde as pessoas habitam é sempre bom, sempre belo e sempre verdadeiro.


Na época do Outono podemos trazer folhas secas, pedras, cascas das árvores, que não precisam necessariamente chegar ao mesmo tempo, elas podem vir surgindo ao longo da Estação. Sabemos das dificuldades que o isolamento nos impõe, sobretudo levar as crianças para coletarem objetos. Mas que presente lindo, um papai ou mamãe, que por ventura, saíram e voltaram com uma folha para sua mesinha. Será uma surpresa especial!!





Dessa maneira podemos ter dentro da nossa casa, um espaço que poderá ser o local de contar uma história para criança, ou fazer uma oração, onde vai trazer referências importantes para seu dia-a-dia, e mais que isso, levará uma imagem tão especial, vivenciada em seus dias na Escola."

texto da prof. Flávia Thomé


"Quando as folhas amarelarem

Quando o Sol mudar de cor

Quando tudo se recolher

E já não há tanto calor

 

Acontece na natureza

 um momento singular

tudo fica quietinho 

como se a vida fosse acabar.

 

Na verdade é só um sono

Que o outono vem trazer  

Para depois de algum tempo"

A vida feliz renascer.

(Beatriz Camorlinga)


  
     


Bem, assim iniciamos nosso percurso!

Na próxima postagem falaremos um pouco sobre a imitação e o gesto, que também fez parte deste primeiro material.


Até lá!